+ Direito da Informática

Blogue complementar ao Direito na Sociedade da Informação LEFIS

segunda-feira, janeiro 09, 2006

 

"Site do Plano Tecnológico tem barreiras ao acesso de deficientes"

"A página na Internet do Plano Tecnológico é imprópria para cidadãos com necessidades especiais, tal como a da Coordenação Nacional da Estratégia de Lisboa (CNEL), que tem entre os seus objectivos criar uma sociedade de informação plenamente inclusiva. O presidente da Associação Portuguesa de Deficientes, Humberto Santos, acha 'inacreditável'. 'O choque tecnológico, palavra da forma de actuação do Governo, devia ser com todos e para todos.'
Em 1999, foi aprovada, em Conselho de Ministros, uma resolução que obriga a Administração Pública a disponibilizar a informação na Internet sem qualquer espécie de barreiras para as pessoas com necessidades especiais. Não por mera solidariedade, mas em nome de um novo conceito de sociedade.
O acesso teria de ser possível 'sem recurso à visão, a movimentos precisos, acções simultâneas ou a dispositivos apontadores, designadamente ratos'. E a obtenção de informação e a respectiva pesquisa passíveis de serem 'efectuadas através de interfaces auditivos, visuais ou tácteis'.

Páginas feitas sob 'pressão'
As direcções-gerais e serviços equiparados, bem como os institutos públicos, nas suas diversas modalidades, tinham o prazo de um ano para se adaptarem à nova legislação. E os novos sites já deveriam nascer com esta acessibilidade. Mas, como diz Filipe Miguel Tavares, webmaster do acessibilidades.net, 'uma coisa é o que deve e tem de ser feito, outra a realidade'.
Entre os novos, destacam-se, pela negativa, o Plano Tecnológico e a CNEL. As falhas são múltiplas. Usam manipuladores de eventos exclusivos do rato, o que veda o acesso a pessoas com destreza reduzida ou incapacidade de ver o cursor no ecrã. E não legendam as imagens. Mas 'o mais crítico' é o facto de os menus, que dão acesso aos conteúdos, não terem texto alternativo, aponta Francisco Godinho, coordenador do Centro de Engenharia de Reabilitação em Tecnologias de Informação e Comunicação da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro - um dos promotores da petição que resultou na resolução do Conselho de Ministros.
Fernando Moreira da Silva, chefe do gabinete de Carlos Zorrinho, que coordena a Estratégia de Lisboa e o Plano Tecnológico, escuda-se na 'pressão'. A página da CNEL foi 'feita de forma muito rápida', o acesso às pessoas com necessidades especiais 'passou ao lado'. 'Tivemos três meses para fazer o Plano Nacional de Reformas e o colocar na Internet', precisa.
O mesmo responsável garante que as associações representativas das pessoas com deficientes não direccionaram reparos ao Governo por conta destas irregularidades. 'Os dois sítios vão ser fundidos', adianta. E a nova página electrónica, que deverá ficar pronta ainda este mês, já respeitará as regras da acessibilidade a pessoas com necessidades especiais.
Francisco Godinho nota uma evolução positiva. Lembra que, em 2000, durante a presidência portuguesa da União Europeia, a acessibilidade aos sítios da administração pública 'foi estendida aos outros Estados-membros'. E que 'o Governo tem pessoas vigilantes e actuantes, nomeadamente na UMIC [Unidade de Missão Inovação e Conhecimento]'.
'Encontramos hoje muitos mais sítios com esta preocupação, mas isto é um trabalho que demora muitos anos', refere Francisco Godinho. O engenheiro compara a acessibilidade na Internet à acessibilidade aos edifícios. 'Infelizmente, continua a acontecer' haver novos sítios alheios às regras.
'A preocupação ainda não está no seio dos responsáveis políticos', considera, por seu turno, Humberto Santos, para quem esta é uma questão de suma importância, uma vez que "está em causa um direito fundamental, que é o direito à informação". 'Nem todos temos igual acesso à informação e todos sabemos como isso é importante para a nossa cidadania.'
Não cumprir as regras não traz consequências. Mas dotar as páginas dos recursos necessários nem sequer fica mais caro, garante Filipe Miguel Tavares. 'Há motores de avaliação', o único aumento de custos pode ser gerado pela 'qualidade da equipa que faz o site'.

O que diz o diploma
A resolução do Conselho de Ministros número 97/99 estabelece que 'as formas de organização e apresentação da informação facultada na Internet pelas direcções-gerais e serviços equiparados, bem como pelos institutos públicos, nas suas diversas modalidades, devem ser escolhidas de forma a permitirem ou facilitarem o seu acesso pelos cidadãos com necessidades especiais'. Tal acessibilidade 'deverá abranger, no mínimo, a informação relevante para a compreensão dos conteúdos e para a sua pesquisa'. Os organismos públicos têm de assegurar que a leitura das suas páginas de Internet 'possa ser feita sem recurso à visão, a movimentos precisos, a acções simultâneas ou a dispositivos apontadores, designadamente ratos'. E que 'a obtenção de informação e respectiva pesquisa possam ser efectuadas através de interfaces auditivos, visuais ou tácteis'." (Ana Cristina Pereira - Público, 09/01/2006)

Comments: Enviar um comentário



<< Home

Archives

abril 2005   maio 2005   junho 2005   julho 2005   agosto 2005   outubro 2005   novembro 2005   dezembro 2005   janeiro 2006   fevereiro 2006   março 2006   abril 2006   maio 2006   agosto 2006   outubro 2006   novembro 2006   janeiro 2007   fevereiro 2007   março 2007  

This page is powered by Blogger. Isn't yours?