+ Direito da Informática

Blogue complementar ao Direito na Sociedade da Informação LEFIS

quarta-feira, novembro 16, 2005

 

"Admirável mundo novo"

"Como era o nosso mundo antes da Internet? Conseguimos ainda lembrar-nos dele, do que era não receber nem enviar mails, não navegar por aí à cata de novidades, não trocar desabafos com os amigos através do messenger, não ler os títulos on-line de um qualquer jornal, não visitar o blogue de que se fala ou escrever no nosso próprio, não pesquisar rapidamente meia dúzia de dados para um trabalho sobre a gripe das aves, ou sobre o Uzbequistão, ou sobre as luas de Saturno, ou sobre amendoins, ou sobre... tudo, tudo, tudo o que se possa imaginar? Como era?... Como comunicávamos uns com os outros por escrito, assim de um momento para o outro? Como enviávamos um documento para Nova Iorque em dois segundos, ou encomendávamos um livro em Londres, ou marcávamos férias no hotel cujos quartos queríamos ver por dentro? Como mantínhamos contacto permanente de palavra com os colegas, estivessem eles na porta ao lado ou em, digamos, Kuala Lumpur? Como?... E, no entanto, foi há tão pouco tempo, dez anitos... Dez anos, que são bastantes para quem vai em 15, mas coisa pouca para quem passou os 40 ou os 50 - ou seja, gente como eu e tantos de vocês que, imagine-se!, vivemos já muitos anos antes da Internet. Muitos anos sem a Internet. E como?...
Hoje em dia, diz um estudo do Eurostat, 91 por cento dos estudantes portugueses usam a Internet. Mais do que os 85 por cento da média europeia. Este é o nosso número alto, que nos faz emparceirar com os 90 por cento de estudantes holandeses, 94 por cento de alemães, 96 por cento de dinamarqueses ou 97 por cento de finlandeses. Mas também temos o nosso número baixo: de entre os reformados portugueses, só três por cento descobriram já as maravilhas deste mundo novo, que, além do mais, tanta utilidade pode ter. Aí, já nem aos calcanhares chegamos dos 20 por cento de reformados finlandeses que usam Internet, ou dos 23 por cento de alemães, ou dos 34 por cento de dinamarqueses, ou dos, pasme-se!, 54 por cento de holandeses. Como dizem as estatísticas, nós somos, de todos os europeus, o povo com maiores disparidades no uso da Internet, conforme se trate de pessoas com um nível de instrução inferior ao 12.º ano (14 por cento de utilizadores) ou de pessoas com estudos acima do 12.º ano (84 por cento). São 70 pontos de diferença, devidos não tanto à elevada percentagem de utilizadores entre os mais 'instruídos' como, sobretudo, à baixa percentagem dos menos 'instruídos'. E por isso é que um meio teoricamente capaz de facilitar (de democratizar) mais do que qualquer outro o acesso a informação, a comunicação, a entretenimento, a encontro, a valorização pessoal, acaba antes de mais por pôr a nu as tremendas desigualdades de partida - e por afastar ainda mais desse 'novo mundo' os que já no 'velho' costumam ficar pelos últimos degraus da escada. Escada da riqueza, do acesso, da cultura, do plano social, da qualidade de vida. E, aqui, as coisas não andam depressa como andou a Internet; pelo contrário, continuam a andar tão, mas tão devagar!" (Paulo Fidalgo - Público, 16/11/2005)

Comments: Enviar um comentário



<< Home

Archives

abril 2005   maio 2005   junho 2005   julho 2005   agosto 2005   outubro 2005   novembro 2005   dezembro 2005   janeiro 2006   fevereiro 2006   março 2006   abril 2006   maio 2006   agosto 2006   outubro 2006   novembro 2006   janeiro 2007   fevereiro 2007   março 2007  

This page is powered by Blogger. Isn't yours?